Arquivo diário: setembro 30, 2011

Novo estatismo econômico e antiga proletarização


A escola keynesiana que defende a intervenção do Estado ou New Deal no mercado interno, não implica a sua substituição por modelos alternativos. De forma a gerar um mercado cada vez mais includente e de incentivos a novos empreendorismos, tende a sustentar a lógica do capital sob o abrigo do Estado.  Toda a geração de renda e emprego estão subordinadas a este controle igualmente, de modo que a economia não poderia curar as crises por si própria, mas se utilizar do Estado o seu controle, pode administrar melhor o capitalismo.  No meio de crises sistêmicas como recentemente em 2008 e as revoltas populares no coração do pensamento do Welfare State, pode existir uma lacuna na teoria econômica, tanto do “controle estatista” quanto ao liberalismo, em seu “Estado Mínimo“. Desde que a “questão social”, a “terceira via” está posta em cheque nos países do capitalismo clássico, como Inglaterra, Espanha e França, as medidas keynesianas de contenção de crises tende a expressar uma incapacidade de resolver problemas graves que só pertencem à lógica do mercado. A austeridade em cortes públicos ou uma política inflacionária que alinha uma a outra, ou acordos trabalhistas entre Estado e empresas, o rigoroso controle do Estado sobre a economia, num mundo universo cada vez mais globalizado por transnacionais desreguladoras dos comércios, torna a visão keynesiana obsoleta. O capital transgrediu nações e o sistema financeiro atropelou as políticas públicas e decisões que eram tomadas no nível micro.

A tal “sociedade da informação” tende a superar em lote o número de trabalhadores legalizados e informais que como massa de “mão-de-obra informatizada” ainda continuam a andar no terreno da alienação do trabalho, como no século XIX, andavam operários – agora com o incentivo reformista dos sindicatos. O projeto atual de salvação do capital está fadado a intervalos menores entre as crises. Desde os anos 20, as intervenções estatais, que nada tem de socialistas, um ledo engano para os intelectuais da esquerda estatista, apenas fizeram assegurar a manutenção e a concentração do capital em suas mãos. Do modo imperialista de acumulação para o Capitalismo de Estado, hoje EUA e China, por exemplo, as relações de trabalho tecem dois pólos, centro e periferia.  O desenvolvimentismo progressista e tecnológico crescente vem firmando suas bases desde o enfraquecimento da luta de classes nos refluxos da Guerra Fria, somando-se aos novos infoproletários, uma massa gerada pela indústria da tecnologia que só tende a acentuar o nível de desigualdade social com trabalhadores integrados e aqueles periféricos. Por exemplo, as transformações iniciadas após a chamada “revolução digital”, que negam o avanço do capitalismo a nível global, tendem a complexificar toda uma cadeia de elementos concretos. Experts da ciência tecnológica defendem que a atualidade representa um salto a uma Era Digital. Este discurso mercantil da megaprodução em “escala global” e da “cultura digital” reproduzem que o quantitativo de seus “progressos” mediante números de acesso, onde de fato, o analfabetismo funcional e capacitacional, indicam que só o acesso à informação não garante conhecimento, são os “desconectados” do mundo real material, das dependências cibernéticas, desagregação do sentido de identidade, gerada muitas vezes por uma descarga acelerada de informação em massa. Partidos de um fundamentalismo tecnológico, essa nova classe emergente de gestores culturais, info-gerências, ativistas “independentes”, administradores de banco de dados empresariais, alimentam a cada dia o imaginário do virtualismo real como uma “nova era”, destinada a prosseguir para a próxima fase sem as velhas bandeiras das ideologias. Articulados com a “nova ideologia” tecnocientífica, dirigem suas verdades abstratas para uma massa de trabalhadores que por condições sociais severas, são imputados novos estigmas, como a analfabetização digital, por exemplo, já não bastasse suas reais condições de sobrevivência.

Os “novos excluídos” agora lotam o exército de reserva, uma massa de milhões de pessoas já precarizadas pelo sistema global. Do centro à periferia, o modelo das relações de exploração segue a norma da profunda desregulamentação do trabalho e, consequentemente o acirramento de forças sociais como tem acontecido nos países do centro. Diferentemente das crises anteriores, como escalas de superprodução e, a crise atual encena um quadro de recessões a nível global em que a periferia dos países do antigo centro começam a desestabilizar a “harmonia” existente. A acumulação de capital organizada pela estrutura dos grandes blocos de megacorporações e pelo sistema financeiro privados ampara-se num momento da pior crise dos sujeitos críticos ao expansionismo capitalista. A falta de organização e inserção social nas lutas contra o capital são dividendos da crise da esquerda estatista.

Por Pablo Mizraji